quarta-feira, 3 de novembro de 2010



A surpreendente morte


Ela sempre chega em momento inoportuno. Não a convidamos mas ela comparece, quando e onde bem entende.

Ela estabelece o seu calendário de visitas, totalmente aleatório aos nossos olhos mortais. Mas preciso, especialmente concorde com a Lei Divina, em cada detalhe.

Somente os que não estejam em equilíbrio mental é que a evocam, desejando-lhe a presença.

Todos os demais preferimos deixar para mais tarde, mais tarde...

É a morte, essa não desejada presença.

Ela dilacera corações plenos de esperança e nos leva a perguntar: Por quê? Por que agora? Por que com minha família?

Assim foi com a família Camargos. Na cidade de Natal, no Nordeste brasileiro, no dia doze de janeiro, a pequena Giovanna fazia seis anos.

Festa de aniversário. Tudo pronto para a comemoração. Pouco antes das oito horas da noite, a família só aguardava o telefonema do pai da menina, para a comemoração.

Ele integrava a missão de paz do exército brasileiro no Haiti. E ele adorava seu trabalho. O único senão eram as saudades da família: a mulher e dois filhos.

Seu retorno ao Brasil estava marcado para o dia vinte e oito. E ele dizia para a esposa que ela acabaria ficando enjoada dele, porque passariam o tempo todo juntos.

Veio o telefonema, ele falou com Giovanna. E a esposa pediu que ele ficasse um pouco mais na linha para cantar o Parabéns pra você.

Mas, de repente, a conexão do Skype caiu. Ela tentou ligar de volta. Sem êxito. A festa continuou.

No dia seguinte, o cunhado ligou para saber notícias de Raniel.

Está bem, informou Heloísa. Conversamos ontem à noite.

Ela não sabia do terremoto e, ao tomar conhecimento, se deu conta que fora a hora em que conversara com seu marido.

Na mesma tarde, um telefonema do batalhão onde Raniel servia, confirmou para a família que ele fora uma das vítimas do terremoto no Haiti.

Embora a tristeza, Heloísa diria mais tarde:

O que me consola é que Raniel morreu fazendo o que sempre quis: ajudar os necessitados e servir ao seu país.

Ele morreu como um herói.

As palavras da esposa traduzem o sentimento sublimado do amor. Ela sabia que o marido amava o seu trabalho, no exército brasileiro.

A saudade é grande. Os filhos perguntam pelo pai e terão que se habituar à sua ausência física.

Mas, eles terão a presença do ser amado em suas vidas nas doces lembranças, no telefonema de aniversário, nos sonhos...

Para essa família, como para todos os que cremos na Imortalidade, existe a certeza de que o Subtenente Raniel somente abandonou o casulo de carne.

Ele prossegue vivendo e amando, na Espiritualidade.

Que esse exemplo de serenidade nos possa servir.

Preparemo-nos. Quando a morte chegar, de inopino, rompendo nossos mais acalentados planos, pensemos: foi só um adiamento de tudo que planejamos. Logo mais tornaremos a estar juntos.

Redação do Momento Espírita, com base no artigo Heróis no Haiti (O soldado), da revista Seleções Reader’s Digest, de abril de 2010

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