CÉU, INFERNO, UMBRAL, PURGATÓRIO... - A GEOGRAFIA DO MUNDO ESPIRITUAL
“Dogmas são reflexos da ignorância humana”
A geografia do mundo espiritual, dividida em Céu e Inferno, habitada por Anjos e Demônios, foi uma invenção secular das “instituições religiosas”, como instrumento de dominação das massas.
A Igreja sempre buscou passar uma “imagem” onde Deus e os homens são duas coisas muito distintas, no complexo da Criação.
Nesse estudo, nos propomos a investigar a visão espírita daquilo que muitos costumam chamar de Céu ou Inferno, e percebemos que, além de não ocuparem um espaço definido no Universo, estão bem mais perto de nós do que possa parecer.
Essa visão, no entanto, se não for bem compreendida, continuará permeada de erros disseminados por dogmas estabelecidos.
O MEDO DE DEUS:
Uma das mais antigas tradições da Igreja é criar falsas idéias a respeito de Deus.
Disseminar o medo de Deus entre os homens é uma das grandes artimanhas do Clero, para manter o homem submisso às normas e ao poder da Igreja.
A “invenção” do pecado original – onde um homem, uma mulher, uma cobra e uma maçã, foi o quarteto responsável pela condenação da Humanidade inteira -, marca a ferro e fogo, do útero à cova, a alma humana.
Igual à “vida de gado”, seríamos um “povo marcado”, mas nem um pouco feliz, por nascermos condenados ao fogo do Inferno, por alguma coisa que sequer fizemos.
Vale lembrar ainda que, o único meio de “fazer alguém” – o sexo – também era considerado um grande pecado. Mas isso é outra história.
A imagem aterrorizante do “Deus de Moisés” – guerreiro, vingativo, chefe de Exércitos e com inimigos a combater ou derrotar – dividiu o mundo espiritual em espaços muito bem definidos, capaz de abrigar destinos diferenciados, para os bons e para os maus. Com isso, resgatou um sentimento muito característico dos povos primitivos: o medo da divindade, com quem era necessário “negociar”.
Além disso, ao dividir o mundo espiritual em duas regiões distintas, a Igreja mergulhou na Mitologia Pagã, resgatando o Paraíso dos Heróis e o Tártaro dos condenados.
Absorveram esses conceitos em sua Teologia, e se encarregaram de criar a imagem de um “lugarzinho infame”, de sofrimentos físicos e tormentos eternos, recheado de diabinhos e seus tridentes, a “cozinhar” todos aqueles que não fizeram direito a lição.
Mera alegoria.
Mas qual seria o objetivo de tanta alegoria?
Muito simples.
Quanto pior o cenário, maior o medo.
Arder no fogo do Inferno ainda é alguma coisa que tira o sono de muita gente, e enche de tranqüilidade as instituições religiosas, cujos interesses escondem-se por detrás do lema “Fora da Igreja não há salvação”.
Muito acima do bem estar de qualquer próximo mais próximo, é um jeito perfeito de garantir o poder temporal e financeiro do Clero.
O Teólogo católico Leonardo Boff, afirma que o inferno é uma invenção dos padres para manter o povo sujeito a eles.
É um instrumento de terror inventado pelas religiões para garantirem seus privilégios e suas situações de força.”
Diante de todas essas afirmações capazes de chocar os mais conservadores, vale a pergunta: o Inferno é alegoria ou realidade?
O Umbral é uma “filial espírita” do Inferno católico?
Vejamos o que dizem os Espíritos Superiores, através das Obras da Codificação.
A VISÃO ESPÍRITA DO CÉU E DO INFERNO:
Quando Kardec interrogou os Espíritos, para conhecer um pouco mais sobre a constituição física do mundo espiritual, partiu do seguinte princípio:
“Haverá, no Universo, lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos?”
Os Espíritos foram objetivos em suas respostas:
As penas e gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos.
Cada um tira de sim mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça.
E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe, especialmente, destinado a uma ou outra coisa.” (LE, item 1012)
Mas Kardec ainda insiste na busca de detalhes:
“(...) o Inferno e o Paraíso não existe, conforme os homens imaginam? (...)
E mais uma vez, os Espíritos complementam, de forma muito clara: “São simples alegorias; por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos.
Entretanto, conforme já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatias; mas podem reunir-se em qualquer lugar, quando são perfeitos.
A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só existe na imaginação do homem. Provém de sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.”
Traduzindo esses ensinamentos, podemos afirmar que, no mundo espiritual, os Espíritos tem o Universo inteiro como morada.
No entanto, aqueles menos evoluídos, em função do orgulho e egoísmo que alimentam, ficam presos ao solo do Planeta em que vivem, criando um “inferno moral” e, conseqüentemente, sofrendo pelo estado mental em que se colocaram.
Cabe muito bem, aqui, relembrar Emannuel quando afirma que “o céu começa sempre em nós mesmos, e o inferno é do tamanho da rebeldia de cada um.”
Segundo a Doutrina Espírita – e contrariando os princípios católicos do “pecado original” e da “redenção pela Graça” – todos, sem exceção, poderão ser salvos.
A visão espírita esclarece que não existem penas eternas e o prazo para a expiação para os Espíritos imperfeitos está diretamente relacionado à sua vontade de melhorar para evoluir.
Assim, na medida em que se libertam de seus vícios e defeitos, - despertando a “centelha divina” que potencializa o Espírito e o faz “à imagem e semelhança do Criador”, - vão ascendendo em sua escalada evolutiva.
Esse progresso, que permite reconhecer a beleza e a harmonia do Criador, presente em toda extensão do Universo, acontece a partir da possibilidade de sensibilidade e aprimoramento da percepção sensorial do Espírito.
É este cenário que simboliza a figura do Céu, que nada mais é do que o fato de o Espírito ter atingido a suprema condição de Espírito Puro.
Quando dizemos que “do átomo ao anjo, somos todos Espíritos a caminho da Luz”, significa que todo “demônio (Espírito Inferior) será anjo (Espírito Superior), um dia”.
Mas isso depende, unicamente, de cada um, pois “se quiser o Sétimo Céu, vai ter que subir degrau por degrau.
” Por Sétimo Céu, podemos entender a Suprema Plenitude de que gozam os Espíritos Perfeitos.
INFERNO E PURGATÓRIO:
Mas o que dizer sobre Inferno e Purgatório ?
Kardec questionou aos Espíritos, partindo do princípio de que conhecia casos em que Espíritos, cuja superioridade era confirmada pela linguagem manifestavam-se a pessoas idôneas, falando sobre inferno e purgatório.
A estas questões, os Espíritos responderam, com muita propriedade, que a linguagem escolhida é sempre aquela de melhor entendimento à pessoa que questiona.
Quando elas se encontram imbuídas de certos conceitos “cristalizados”, oferecer idéias completamente opostas seria o mesmo que chocá-las, ferindo-lhes a convicção.
Esse tipo de conduta, os Espíritos evitam.
INFERNO E UMBRAL:
Ao contrário do que parece, o Umbral não é uma filial espírita do Inferno.
Essa “visão”, embora tivesse servido de modelo, nada mais é do que a manutenção de velhos dogmas, com uma nova roupagem.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, a palavra umbral deriva do espanhol e significa soleira, limiar, entrada, ou seja, a faixa mínima de piso que se acha entre as laterais de uma porta, portão ou passagem, e serve de limite entre um cômodo e outro numa construção.”
A obra “Nosso Lar”, de André Luiz, é uma das que melhor demonstram o que é o Umbral.
E, com certeza, não é um lugar equivalente ao dogma do Inferno.
Segundo André Luiz, quando desencarnou, encontrou-se em uma faixa, do mundo espiritual, de vibração extremamente densa.
Depois de algum tempo de desespero e sofrimento, ao fazer uma prece, foi acudido por um Bom Espírito e conduzido, à maneira de um ferido comum, à Colônia Nosso Lar.
Pôde, então, observar o trajeto que separava o Umbral da Grande Muralha que abrigava a Colônia.
Analisando esse trajeto, é possível perceber que, se o Umbral está separado da Colônia apenas por uma muralha, eles não se encontram em planos diferentes.
É preciso entender, acima de tudo, que o mundo espiritual descrito por André Luiz, é uma outra dimensão do Planeta Terra, no mesmo sistema planetário e girando em torno do Sol:
“Estamos nas esferas espirituais vizinhas da Terra e o sol que nos ilumina, neste momento, é o mesmo que nos vivifica o corpo físico.
Aqui, no entanto, nossa percepção visual é muito mais rica.”
Vejamos algumas passagens que definem bem o que é o Umbral:
“O Umbral começa na crosta terrestre.
É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.
” Mais adiante, complementa:
O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima, a prestações, o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu, por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.”
“ O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se aí tudo o que não tem finalidade para a vida superior.
Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias.
Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie.
Pois o Umbral está repleto de desesperados.
Por não encontrarem o Senhor a disposição dos seus caprichos... essas criaturas revelam e demoram em mesquinhas edificações.”
Assim, é possível perceber que o sofrimento e desespero, mencionado nas páginas iniciais de “Nosso Lar”, não igualam o Umbral ao Inferno católico.
É fácil afirmar isso, visto que este é composto por sofrimentos físicos eternos, enquanto o Umbral nada mais é do que uma diferente faixa de vibração da matéria; uma faixa vibracional extremamente densa, localizada numa outra dimensão do Planeta Terra, onde o Espírito se depara com todos os seus vícios e defeitos, sofrendo por isso.
Assim, da mesma forma que o Inferno e o Paraíso, o Umbral não passa de um estado de espírito, condição moral de sofrimento ou felicidade a que estão sujeitos os Espíritos, por suas próprias atitudes, pensamentos e sentimentos, durante toda vida encarnada ou depois dela.
É bom lembrar que somos todos Espíritos, encarnados ou não, vivendo cada um seu paraíso ou inferno particular.
O que nos diferencia de nossos irmãos desencarnados é apenas o fato de estarmos, por ora, vivendo uma de nossas muitas experiências, na densidade da matéria.
De resto, somos absolutamente iguais em tudo, com desejos, opiniões, frustrações, alegrias, defeitos e qualidades.
Assim, no Umbral, tudo o que está fora de nós é conseqüência do que está dentro.
Tudo o que existe em nosso mundo pessoal e nos acontece, é mero reflexo do que trazemos na consciência.
O Umbral nada mais é do que uma faixa de freqüência vibratória a que se ligam os espíritos desequilibrados, cujos interesses, desejos, pensamentos e sentimentos têm afinidade e sintonia.
É uma “região” energética onde os afins se encontram e vivem, onde podem dar vazão a seus instintos, onde convivem com tudo o que lhes é característico, para, um dia, cansados de tanto “remarem contra a maré” de amor e luz do Universo, se entregam aos Espíritos que sempre estão por lá, em missões de assistência e resgate.
Na verdade, o Umbral funciona como um grande filtro.
A passagem pelo Umbral serve “para drenar energias negativas acumuladas numa encarnação de descaso e irresponsabilidade com a própria consciência e a de outros”, atitudes bem características do espírito humano, ainda em processo de evolução.
É um processo necessário para o bem do próprio Espírito, a fim de que ele possa se libertar de energias espirituais altamente tóxicas, que desequilibram e bloqueiam sua mente para receber energias mais sutis e saudáveis; além do que, perturbam ambientes mais equilibrados, como o de colônias espirituais, a exemplo de Nosso Lar.
Vale lembrar que essa “estadia” não se trata de castigo ou exclusão, mas de trabalho justo, necessário e amoroso.
Define-se o Umbral como “uma criação de amor e justiça divinos, onde espíritos desviados e profundamente desequilibrados encontram um meio no qual consegue viver e, ao mesmo tempo, aprender, enquanto se recuperam.”
Algumas pessoas questionam se não é pior para o Espírito ficar convivendo, tanto tempo, com energias negativas semelhantes às suas, agravando e intensificando seu próprio desequilíbrio.
Vale notar, porém, que alguns espíritos desencarnam em tal estado de alheamento e perturbação que não resta outro recurso a não ser deixar que a natureza siga o seu curso e cumpra o seu papel, através de um trabalho necessário de depuração, colocando-os, lado a lado, com seus semelhantes para que, juntos, filtrem uns dos outros, as energias que os envenenam, e, observando as atitudes uns dos outros, possam compreender onde erraram e busquem a suprema atitude de “querer” reiniciar um processo de reforma interior.
CONCLUSÃO:
Umbral, Céu e Inferno seria tema para muitas páginas, sob muitos pontos de vista.
No entanto, a visão espírita é clara quando revela o que muitas vezes, velhos dogmas se encarregaram de encobrir.
Quando Emannuel nos informa que “o céu começa sempre em nós mesmos e o inferno é do tamanho da rebeldia de cada um” deixa muito clara a idéia de “estado de espírito” que André Luiz evidenciou em “Nosso Lar”.
A divisão do mundo espiritual não é geográfica, mas vibratória.
Assim, cada um traz, em si mesmo, o inferno e o paraíso que construiu com o “barro e tijolo” de suas atitudes, pensamentos, sentimentos e, acima de tudo, com a “argamassa” do livre-arbítrio.
Se entre o Bem e o Mal existe apenas um “sim”, entre o Inferno e o Paraíso não existe outro caminho, senão aquele que nos encarregamos de traçar, ao longo de nossa trajetória “do átomo ao anjo”.
SUGESTÃO DE ESTUDO:
Leitura da Obra “Nosso Lar”, de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALAN KARDEC. O Livro dos Espíritos.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER. Pelo Espírito André Luiz. Nosso Lar.
Revista Espiritismo e Ciência. nº16: “UMBRAL – Entre a Luz e as Trevas”. Texto de Maísa Intelisano. pp.26-33.
Revista Universo Espírita nº15: “Felicidade perfeita e sofrimento absoluto” Texto de Paulo Henrique de Figueiredo. pp.30-39.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
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