segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A história de Júlio (Final)


Como sou grato a eles!”, exclamei após recordar tudo.


Tia” Suely sorriu e olhando-me fixamente elucidou-me:


Aprende com eles, Júlio, a maior lição que tentaram lhe dar. Amar! E seja grato, muito grato, a gratidão é uma demonstração do amor. Ingrato, pode perder a ligação com os seus benfeitores, ficando mais difícil receber benefícios. Grato, fortifica o laço de carinho que esses dois espíritos nutrem por você.”


Será que um dia poderei retribuir a eles um décimo do que fizeram por mim?”, indaguei-a.


Creio que os dois não necessitam da ajuda que você pode lhes dar. Seus pais são espíritos bondosos que em muitas encarnações têm seguido o caminho do bem e do conhecimento. Para eles só sua gratidão, seu amor, é o suficiente. Mas, Júlio, a vida lhe dará muitas outras oportunidades de fazer o bem, fazendo a outros, faz a si mesmo e consequentemente àqueles que nos amam, que querem nosso progresso.”


Sou muito inferior a eles para ajudá-los...


Não faça comparações!”, continuou Suely a elucidar-me. “Todas me parecem injustas. Pense neles como alguém que ama e que quer vê-lo bem. Quando você, socorrido, necessitou encarnar, eles se ofereceram para serem seus pais novamente. Não precisariam eles passar pelo que passaram, ter um filho doente e sofrer com a sua desencarnação precoce. Mas o amaram tanto que não quiseram você num lar estranho. Preferiram passar tudo, mas com você junto deles.”


Abaixei a cabeça, senti muito ter sido ingrato. Almejei seguir seus exemplos. Suely, lendo meus pensamentos, concluiu:


Isso, Júlio, faça do exemplo deles a meta da sua vida. E não pense que esse período em que você esteve com eles lhes foi tão sacrificial. Aqueles que amam não vêem sacrifícios. Tiveram que modificar um pouco a vida deles quando você nasceu. Seus pais eram professores universitários e programaram horários diferentes de trabalho para que sempre um deles pudesse estar com você. Fizeram de tudo para melhorar seu estado e lhe dar conforto. São adeptos do Budismo, conhecem a reencarnação. Viram em você um espírito reencarnante necessitado de carinho e amor. Aproveitaram esse período difícil por que passaram, aprenderam muito, tornaram-se mais religiosos e estudiosos espirituais. Não tiveram sofrimentos-débito, mas crédito diante das Leis Divinas. Quando você desencarnou recentemente, tudo fizeram para ajudá-lo. Hoje, estão tranquilos em relação a você, sabem que está bem e, se quiser fazer algo por eles, seja o que eles lhe desejam.”


Eles desejam que eu seja feliz!”, exclamei.


Simples?”, indagou Suely, sorrindo.


Não posso ter dó de mim nem remorso, isso gera inquietude e insatisfação. Quero ser útil, aprender e fazer o que eles querem, o que desejam para mim.”


Suely apertou minha mão e retirou-se, fiquei sozinho e fiz um propósito de melhorar, de ser como eles, e tenho conseguido. O amor deles me sustenta!


* * *

Ter um filho deficiente mental pode parecer sofrimento a muitas pessoas. Creio que é trabalhoso. Mas para muitos pais não é uma coisa nem outra. É estar perto daquele que amam. Encontrei muitos que agiram, agem como os pais de Júlio. Que amam tanto o espírito que necessita desse aprendizado que reencarnam para ajudá-lo, fortalecendo os laços desse afeto verdadeiro.


O personagem deste capítulo teve uma paralisia. É o nome que se dá a uma sequela de doença neurológica. Pode ser paralisia total ou parcial, com ou sem outros distúrbios de fala, audição, visão etc. A causa pode ser trauma de parto, congênito ou genético.


Júlio aprendeu a ser grato e, quando cultivamos a gratidão, nada nos parece injusto, e as ingratidões não nos atingem, porque tudo o que fazemos é por amor e sem esperar recompensas. Devemos lembrar só o que de bom recebemos e esquecer todo o mal. Os pais de Júlio não só devem ser exemplo a ele, mas a todos nós.


Vimos na história real de Júlio uma infeliz reação das muitas que podem acontecer aos que abusam do corpo perfeito, danificando-o com tóxicos, envenenando até seu perispírito, gerando muito sofrimento.


Há tempos atrás, quando Júlio em sua encarnação anterior desencarnou pelas drogas, elas não eram tão influentes como hoje. Tenho visto muitos imprudentes se viciarem, comprometendo-se muito espiritualmente. Os tóxicos existem, e ai de quem deles abusar.


(Comentários do Espírito Antônio Carlos)


Retirado do livro “Deficiente mental, porque fui um?” (Cap. 2) - Ditado por diversos espíritos - Psicografia de Vera Lúcia Marinzeck Carvalho - Editora Peti

A história de Júlio (Parte 2)


Na minha encarnação anterior tive por pais os mesmos espíritos que o foram nesta última.


Eles formavam uma família feliz. Meus pais, casados há anos, viviam harmoniosamente, tinham duas filhas casadas e netos, quando mamãe engravidou. Embora surpresos, achando-se velhos, me receberam como presente de Deus. Foram excelentes pais, me amaram, cuidaram de mim, me educaram, dando ótimos exemplos. Cresci forte, sadio e inteligente.


Espírito inquieto, não dei valor a nada que recebia. Achava meus pais velhos, “caretas” e me envergonhava deles. Era respondão, às vezes bruto com eles. Achava que me enchiam.


Estudava numa universidade e comecei a consumir drogas. Não tinha motivos como desculpas. Não existem motivos para entrar no vício, mas alguns viciados arriscam algum fator para se justificar. Quis sensações novas e achei que nunca ia me tornar dependente delas. Das leves às pesadas, me viciei, porém achava que as largaria quando quisesse. Comecei a gastar mais dinheiro e mentia aos meus pais, dizendo que era para o estudo. Não desconfiavam e me davam, privando-se até de remédios.


Foi então que ocorreu o acidente. Numa viagem de fim de semana, meus pais desencarnaram juntos num acidente de trem.


Senti a falta deles, mais ainda do que eles faziam por mim. Não quis morar com minhas irmãs, fiquei sozinho na nossa casa. Formei-me dois meses depois e arrumei um emprego. Mas passei a me drogar cada vez mais. E agora não escondia e as usava em casa.


- Júlio, por favor, pare com isso! Pense em nossos pais! — diziam minhas irmãs, preocupadas.


- Não sou um viciado! Uso-as porque quero e paro quando quiser — respondia rudemente.


Minhas irmãs, cunhados e até sobrinhos, ao saberem, tentaram me ajudar. Passei a ser violento, não aceitei a intromissão deles.


Não produzia no trabalho e, como faltava muito, fui demitido e passei a consumir cada vez mais tóxicos; me tornei um farrapo humano. Fui vendendo tudo o que era de valor em casa, não comprei mais alimentos, minhas irmãs que os traziam, como também passaram a pagar as despesas da casa e alguns débitos meus. Mesmo assim, não gostava dos meus familiares, não queria vê-los, os evitava e quando vinham em casa os expulsava violentamente. Senti que eles planejavam me internar. Então, achando que a vida estava insuportável, resolvi me suicidar. Tomei uma overdose. Mas não morri, passei mal. Quando melhorei, levantei-me; estava deitado no tapete da sala. A casa estava uma anarquia. Tomei remédios, todos que encontrei, o resto de heroína e uma bebida alcoólica, deitei de novo, certo de que dessa vez ia morrer.


Desencarnei logo, mas era de noite. No outro dia minha irmã veio com a ambulância para me levar e acharam meu corpo morto.


Perturbei-me extremamente. Quando saí do torpor, senti-me preso, no escuro, com cheiro insuportável. Meu corpo estava enterrado e eu ligado a ele. Somos espíritos revestidos do perispírito e encarnados no corpo físico. Quando o corpo carnal morre, o deixamos e este parece somente uma roupa usada. Continuamos a viver espiritualmente revestidos com o corpo perispiritual. Isso é o que normalmente acontece. Mas há os que abusam e imprudentemente, como eu, danificam o corpo físico, a abençoada roupa que nos é dada para nos manifestarmos no campo material. Não fui desligado e fiquei junto ao corpo, sofrendo atrozmente.


Lembrei-me dos meus pais, do amor deles por mim e chorei; chamei por eles:


Mamãe! Papai! Acudam-me!”


Senti-me tirado dali, parecia que fiquei ali séculos e não meses.


Não consegui me recuperar. Internado num hospital para suicidas, estava perturbado demais. Não tinha desculpa e não quis me perdoar. Que havia feito do meu corpo perfeito? Danifiquei-o com as drogas. Não merecia outro perfeito.


Faço uma ressalva, esta é minha história, que ocorreu comigo. Isso não acontece com todos que foram viciados nem com todos os suicidas. Mas normalmente estes sofrem muito, se os encarnados tivessem consciência disso, não se drogariam nem se suicidariam.


Meus pais preocuparam-se comigo. Amavam-nos muito, a mim e a todos os familiares.


Tiveram uma desencarnação violenta num acidente brutal. Foram socorridos pelos seus merecimentos. Sentiram que eu estava mal, então souberam que era viciado. Tentaram me ajudar, porém essa ajuda é restrita ao livre-arbítrio do necessitado. Pediram auxílio mentalmente às outras filhas, elas tentaram, ignoraram as ofensas e tudo fizeram, até se sacrificaram financeiramente, venderam bens para pagar meus débitos e para ter dinheiro para me internar.


Meus pais viram tristemente meu suicídio. Só quando me comovi ao lembrar deles é que puderam desligar-me da matéria podre e me socorrer.


Entenderam que só melhoraria na matéria. Estava tão perturbado, me desorganizei tanto que só me recuperaria no corpo físico. Com o esquecimento, me organizaria, encarnado recuperaria o que por livre vontade desordenei, danifiquei.


Meus pais reencarnaram unidos por um carinho profundo, casaram novamente e me receberam alegremente por filho.


Do livro “Deficiente mental, porque fui um?” (Cap. 2) - Ditado por diversos espíritos - Psicografia de Vera Lúcia Marinzeck Carvalho - Editora Petit

A história de Júlio (Parte 1)

Fui muito amado! Meus pais se desdobravam em atenção e cuidado para comigo. Fui o segundo filho deles. O primeiro, meu único irmão, Júnior, era perfeito e muito bonito.

Não tenho muitas lembranças do período em que estive encarnado com deficiência.

Fixo minha mente para recordar, sinto a sensação de que estava preso num saco de carne mole e disforme. Parecia que, ao estar encarnado, estava restrito a uma situação desconfortável e sofrida, porém sabia ser melhor que meu estado anterior, o de desencarnado.

Realmente estava restrito, era deficiente físico e mental. Tive paralisia cerebral.

Lembro que cuidaram de mim com ternura imensa, gostava quando falavam comigo, me acariciavam.

Meus pais tentaram de tudo para que eu melhorasse, fisioterapias, especialistas e cuidados especiais.

Vivi três anos e seis meses nesse corpo que agora bendigo, que serviu para que me organizasse do tremendo desajuste em que eu me encontrava. Não andei, não falei, ouvia e enxergava pouco e era portador de muitas doenças no aparelho digestivo.

Uma pneumonia me fez desencarnar.

Recordo pouco essa minha permanência na carne. É como recordar adulto a primeira infância, O desconforto muito me marcou, como também o imenso amor que meus pais tiveram e têm por mim.

Socorrido ao desencarnar por socorristas, fui levado a um hospital de uma colônia.
Estive internado numa ala especializada em crianças e deficientes. Lembro-me que lá sentia a falta da presença física de meus pais. Eles foram levados muitas vezes para me ver. Alegrava-me com essas visitas.

Meus pais, pessoas boas e com alguns conhecimentos espirituais, puderam, enquanto dormiam, ser desligados do corpo físico e vir me ver. Foram encontros emocionantes. Isso é possível acontecer com muitos

pais saudosos. Infelizmente poucos recordam esses comovidos encontros.

Recuperei-me. Com o carinho dos tios, trabalhadores do hospital, sarei das minhas deficiências. Retornei à aparência que tinha na encarnação

anterior, antes de ter começado com meu vício e danificado meu corpo sadio.
Dessa vez gostei de estar desencarnado e mais ainda do hospital.

Normalmente em todas as colônias há no hospital uma parte onde são abrigados os que foram deficientes mentais quando encarnados, isso para que recebam tratamento especial para se recuperarem.

Ressalvo que muitos ao desencarnarem não têm o reflexo da doença ou das doenças e ao serem desligados da matéria morta são perfeitos, nem passam pelos hospitais. Infelizmente não foi o meu caso. Necessitei me recuperar, após um ano e dois meses estava tendo alta e fui para uma ala no Educandário para jovens.

Vou descrever a parte do hospital em que fui abrigado.

Os quartos são grandes, ficam juntos muitos internos. Não é bom ficar sozinho, é deprimente. Gostava de ter companhia, de ficar com os outros. Logo me tornei amigo deles.

As colônias não são todas iguais. Tudo nelas é visando o bem-estar de seus abrigados. Mas em todas há lugares básicos, como nas cidades dos encarnados, que têm escolas, hospitais, praças, ruas etc. Nas colônias também, só que com mais conforto, bem-estruturados, grandes e bonitos. Visitando tempos depois hospitais em outras colônias, vi que todas são aconchegantes, diferenciando-se nas repartições, no tamanho e nos adornos.

“Você, Júlio, não é mais doente. É sadio! Tem de se sentir sadio! Vamos tentar?”, dizia para mim Suely, uma das “tias”, sorrindo encantadoramente.

A deficiência estava enraizada em mim, necessitei entender muitas coisas para sanar seus reflexos.

Quando comecei a falar, passei a escutar e a enxergar normalmente e logo a andar.

O quarto em que estava, como todos os outros, tem a porta grande, sempre aberta, que dá para um jardim-parque com muitas árvores, flores, brinquedos e animais dóceis e lindos.

Nesse jardim há sempre muita claridade e brincadeiras organizadas. Ali há um palco onde há danças, aulas de canto, música e teatro. Do outro lado dos quartos estão as salas de aula. Gostei muito de ficar ali, naquela parte do hospital. Foi meu lar no período em que estive internado. Encantava-me com o jardim-parque e foi me divertindo sadiamente que me recuperei com certa facilidade. As brincadeiras fazem parte da recuperação. Não existem medicamentos como para os encarnados. Não senti mais dores nem desconforto.

O interno é transferido dali quando quer ou quando se sente apto. Sentindo-me bem, fui transferido, mudei para a ala jovem do Educandário, como já mencionei, onde estudei e passei a fazer tarefas.

Quando meu curso terminou, pedi para trabalhar na ala do hospital para recuperação de desencarnados que na carne foram viciados em tóxicos. Esse meu pedido tinha razão de ser. Fiquei contente por ter sido aceito e passei a trabalhar com toda a dedicação.

Na minha penúltima encarnação tive meu corpo físico perfeito. Que fiz dele? Recordei.Quando estava me recuperando no hospital, as lembranças vieram normalmente. Como “tia” Suely explicou-me, recordar não acontece com todos. Muitos recuperados voltam a reencarnar sem lembrar de nada do passado.

Lembrei-me sozinho, sem forçar o meu passado, e “tia” Suely me ajudou a entendê-lo e não “encucar”, pois o passado ficou para trás e só podemos tirar lições para o presente.Principalmente no meu caso, tentar acertar e não repetir os mesmos erros.

(Do livro “Deficiente mental, porque fui um?” (Cap. 2) - Ditado por diversos espíritos - Psicografia de Vera Lúcia Marinzeck Carvalho - Editora Petit)

domingo, 6 de setembro de 2009

O CACHORRO E O COELHO

Eram dois vizinhos.

O primeiro vizinho comprou um coelhinho para os filhos.

Os filhos do outro vizinho pediram um bicho para o pai. Ele comprou um cão pastor alemão.

Papo de vizinho:
* Mas ele vai comer o meu coelho.
* De jeito nenhum. Imagina. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho.

E parece que o dono do cachorro tinha razão.

Juntos cresceram e amigos ficaram.
Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa.

Eis que o dono do coelho foi passar o final de semana na praia com a família e o coelho ficou sozinho.

Domingo, à tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche, quando entra o pastor alemão na cozinha.

Pasmo, trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de terra e, é claro, morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo.

Dizia o homem:
- O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso!
Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?! Todos se olhavam.

O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos.

Já pensaram como vão ficar as crianças?
Não se sabe exatamente quem teve a idéia, mas parecia infalível:

Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha.
E assim fizeram.
Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças.

Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.

- O que foi? Que cara é essa?
- O coelho, o coelho...
- O que tem o coelho?
- Morreu!
- Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem.

- Morreu na sexta-feira!
- Na sexta?
- Foi antes de viajarmos, as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu!

A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa.

Mas o grande personagem desta história é o cachorro. Imagine o coitado, desde sexta-feira procurando em vão pelo seu amigo de infância.

Depois de muito farejar, descobre o corpo morto e enterrado. O que faz ele... Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para seus donos, imaginando fazer ressuscitá-lo. E o ser humano continua o mesmo, sempre julgando os outros...

Outra lição que podemos tirar desta história é que o homem tem a tendência de julgar os fatos sem antes verificar o que de fato aconteceu.

Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Histórias como esta são para pensarmos bem nas atitudes que tomamos.

Às vezes fazemos os outros sofrerem por nosso injusto julgamento, pense...

"A vida tem quatro sentidos: amar, sofrer, lutar e vencer".
Então: AME muito, SOFRA pouco, LUTE bastante e VENÇA sempre que possível... Mas não julgue diante da 1ª. Visão ou do primeiro comentário.

REFLEXÃO



"A VERDADEIRA MEDIDA DE UM HOMEM NÃO É COMO ELE SE COMPORTA EM MOMENTOS DE CONFORTO E CONVENIÊNCIA, MAS COMO ELE SE MANTÉM EM TEMPOS DE CONTROVÉRSIAS E DESAFIOS"
MARTIN LUTHER KING.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SACUDI O PÓ

Conforme consta do Evangelho segundo Lucas, em dado momento Jesus enviou Seus discípulos para pregar e curar.
Dentre as exortações, orientou como deveriam se comportar, caso eles e suas ideias não fossem acolhidos em algum lugar.
Nessa hipótese, os discípulos deveriam se retirar e sacudir o pó de seus pés.
Há quem veja nessa forte expressão um anátema lançado contra os descrentes.
Contudo, isso destoa do conjunto da mensagem do Cristo.
Jesus ensinou e exemplificou a compaixão e não fugiu do contato com os equivocados do Mundo.
Afirmou mesmo que os sãos não necessitam de remédio.
Uma coerente interpretação da exortação é no sentido de que os discípulos não deveriam conservar qualquer rancor.
Ao se despedir de quem não os havia aceitado e compreendido, deveriam seguir de alma leve.
Bater o pó dos pés equivaleria a se livrar de todo traço de impureza, no sentir e no pensar.
Trata-se de uma lição preciosa, cuja aplicação permite permanecer em paz em face da incompreensão.
É comum a criatura idealista desejar partilhar seus sonhos e projetos de um mundo melhor.
Ela se toma de natural tristeza quando não é compreendida.
Esse sentimento é ainda mais forte quando são seus amores que não a entendem.
Por exemplo, um pai rigorosamente honesto que não consegue convencer os próprios filhos a lhe seguirem os exemplos.
Uma esposa tomada do ideal da caridade que encontra resistência no próprio esposo, quanto a seus atos generosos.
Um professor apaixonado pelo saber que depara com alunos preguiçosos.
Nessas experiências decepcionantes, é preciso sacudir o pó dos pés.
Compreender que a liberdade é uma lei da vida e não esperar dos outros o que ainda não podem ou não querem dar.
A construção de um mundo melhor não se faz sem sacrifícios.
Quem esposa o ideal de um padrão ético superior é um homem do amanhã.
Ele vive hoje o que a maioria viverá mais tarde.
Sua função é a de um semeador do bem.
Com seu exemplo, demonstra a possibilidade de ser honrado e generoso.
Com suas palavras, exorta os que o rodeiam a imitá-lo.
Mas não pode impor suas ideias.
Cada alma amadurece a seu tempo para as grandes verdades da vida.
Perante incompreensões, resta a tranquilidade da consciência pelo dever bem cumprido.
E também a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, as sementes do bem produzirão saborosos frutos.
Compete a cada homem colaborar para que o mundo se aprimore e os costumes se purifiquem.
Entretanto, o resultado de seus esforços repousa nas mãos de Deus.
Com o inesgotável recurso do tempo, Ele assegura que, no momento adequado, o bem se torne pujante, no íntimo de cada ser.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mansuetude e prudência


Você tem se assustado com a violência na sociedade? Com essa violência cotidiana, quase que banalizada pelo suceder dos fatos?
Sem sombra de dúvidas, os dias que se sucedem são desafiadores para todos nós. Nunca conquistamos tanto em tecnologia e bem-estar, nunca o desenvolvimento científico e tecnológico foi tão longe, porém, em nossa intimidade ainda vige a violência.
Reclamamos que o mundo está tão violento, porém a violência muitas vezes ganha morada em nosso mundo íntimo.
Já reparou como somos violentos no trânsito? Basta alguém nos dar uma fechada, conduzir mais lentamente, cruzar nossa frente e violentamos o próximo com nosso verbo truculento, intempestivo, ameaçador.
Outras vezes, chegamos em casa com o peso do dia nos ombros, e aqueles que nos são mais caros ganham a violência de nossa indiferença ou da resposta seca e curta, sem envolvimento e interesse emocional nenhum.
Percebemos que a violência ganha morada em nossa intimidade quando alguém nos provoca ou toca em algum assunto que nos incomoda...
O oposto da violência é a mansuetude. A capacidade de ser manso. Não por acaso foi uma das recomendações de Jesus no Sermão da Montanha, nos lembrando que são bem-aventurados os mansos, pois herdarão a Terra.
Se hoje nos cansamos da violência, que seja iniciada em nós a proposta da mansuetude. Que comecemos por nós o exercício da troca da violência pela mansidão.
Para ser manso, é necessário aprender a agir, ao invés de reagir. É necessário mudar a moeda no trato social. Oferecer sempre a moeda da mansuetude, seja qual for a que nos oferecerem.
Quando nos ofertarem a violência, simplesmente não aceitemos, devolvendo paz, tranquilidade, mansuetude.
Parece difícil? É uma questão de exercício. Experimentemos só por hoje. Quando alguém nos oferecer a violência e devolvermos na mesma moeda, a violência será nossa, e permanecerá conosco. Como consequência, sofreremos os reflexos dela.
Ao contrário, quando agirem violentamente contra nós, proponhamos uma ação de mansuetude. Ao grito, devolvamos a voz tranquila, ao desaforo, ofereçamos o elogio, e à ameaça, ofereçamos o entendimento.
Para tanto, não se faz necessário nos colocarmos como vítima. Ao sermos mansos, não precisamos ser vítimas da violência, ou joguete das ações alheias.
Para evitar isso, Jesus nos recomenda usarmos da mansuetude das pombas, mas da prudência das serpentes.
Armemo-nos de prudência, percebamos onde caminhamos, conheçamos as pessoas com que convivemos. Tudo isso é necessário.
Mas nada na vida justifica a necessidade de ser a violência a ferramenta de nosso trato social. Quando a paz e a mansuetude ganharem nosso mundo íntimo, certamente estará mais próximo o dia em que viveremos em um planeta de paz.
Lâmpadas e inteligências


As lâmpadas servem para iluminar. Para isso, são dotadas de potências de iluminação diferentes.
Há lâmpadas de 60 watts, de 100 watts, de 150 watts... Esse número em watts diz o poder de iluminação da lâmpada.
Também as inteligências servem para iluminar.
Nos gibis, o desenhista, para dizer que um personagem teve uma boa ideia, desenha uma lâmpada acesa sobre a sua cabeça.
As inteligências, à semelhança das lâmpadas, também têm potências de iluminação diferentes.
Os homens inventaram testes para medir a “wattagem” das inteligências.
Ao poder de iluminação das inteligências deram o nome de “QI”, coeficiente de inteligência.
As inteligências não são iguais. Pessoas a quem os testes inventados pelos homens atribuíram um QI 200, têm um poder muito grande para iluminar.
Alguns, para se gabar, chegam a mostrar sua carteirinha, dizendo que sua inteligência tem uma “wattagem” alta.
Mas, nós não olhamos para as lâmpadas. As lâmpadas não são para serem vistas. As lâmpadas valem pelas cenas que iluminam e não pelo brilho.
Olhar diretamente para a lâmpada ofusca a visão.
Há inteligências de “wattagem” 200 que só iluminam esgotos e cemitérios. E há inteligências modestas, como se fossem nada mais do que a chama de uma vela, que iluminam sorrisos.
Uma lâmpada não tem vontade própria. Ela ilumina o objeto que o seu dono escolhe para ser iluminado.
A inteligência, como as lâmpadas, não tem vontade própria. Ela ilumina os objetos que o coração do seu dono determina que sejam iluminados.
A inteligência de quem ama dinheiro ilumina dinheiro, a inteligência dos criminosos ilumina o crime, a inteligência dos artistas ilumina a beleza.
A inteligência é mandada. Só lhe compete obedecer.
* * *
As considerações luminosas de Rubem Alves nos fazem pensar um pouco a respeito de como estamos utilizando este grande instrumento que temos – a inteligência.
O que temos iluminado com ela? O que temos feito desta grande habilidade da qual dispomos?
Allan Kardec deixa claro que a inteligência nem sempre é penhor de moralidade, e o homem mais inteligente pode fazer um uso pernicioso das suas faculdades.
Assim, ter uma inteligência avantajada não significa ser um homem de bem, não significa ser uma alma evoluída.
É necessário que essa inteligência esteja sendo canalizada para o bem, para a civilização e aperfeiçoamento da Humanidade.
A mesma inteligência que desenvolve uma arma química pode desenvolver vacinas e remédios.
A mesma inteligência que manipula as leis e as pessoas em benefício próprio, pode ser a inteligência que auxilia, que defende os fracos e oprimidos.
A mesma inteligência das estratégias criminosas de usurpação do dinheiro público pode ser utilizada na reconstrução de cidades, na restituição da dignidade de povos abandonados por interesses materialistas.
Basta que a lâmpada ilumine o que deve iluminar, basta que façamos escolhas acertadas e demos ordens corretas à nossa inteligência.
A inteligência, como as lâmpadas, não tem vontade própria. Ela ilumina os objetos que o coração do seu dono determina que sejam iluminados.


Redação do Momento Espírita com base no texto Variações
sobre a inteligência, do livro O sapo que queria ser
príncipe, de Rubem Alves, ed. Planeta.