A Insatisfação Humana
Muito comum ouvirmos reclamações dos irmãos em humanidade sobre tudo quanto acontece na face da Terra, na vida relacional, principalmente. Pode ser considerado procedimento normal? Afirmamos que não.
O homem reclama quando tem e quando não tem; reclama quando chove e quando não chove, o mesmo acontecendo com o calor e o frio. Se está desempregado reclama; mas, após empregar-se, algumas semanas depois, inicia toda uma insatisfação por estar ganhando pouco. Não sabia, ao empregar-se, qual o salário que receberia?
Em verdade, os anseios do homem são insaciáveis, com suas raras exceções. O fim de algo alcançado serve de trampolim para outros desejos. É o que acontece, normalmente, sem que tal anseio seja percebido pelo que o acalenta.
De um modo geral, a criatura humana não está satisfeita com o que tem, e a sua primeira atitude é reclamar contra Deus, como se Ele fosse o culpado de tudo de ruim. Mas, de bom, não! De bom ele, o reclamante, fez por merecer, esforçou-se para detê-lo.
Vive-se uma avassaladora onda de violência, intempéries, deixando marcas terríveis de devastação, incompreensões várias quando a criatura aspira por uma convivência pacífica, fraternal onde possa reinar a harmonia de todas as forças, sejam humanas ou telúricas.
Sofre-se porque a saúde está em clima de desarmonia e a longevidade física, tão almejada de permanecer na Terra, começa a dar demonstração de fragilidade, está chegando ao fim. E o ser humano quer tanto permanecer ao lado dos que ama, conviver com eles para sempre, gozar-lhe a companhia!
Devemos convir, no entanto, que a vida na carne não carrega apenas dificuldades múltiplas como flagelos, pestes, epidemias infelicitadoras, crimes, todo tipo de violência, tantas ações sexuais em desalinho, inúmeros tipos de falcatruas, corrupção... A vida na carne se expressa como imenso palco onde os artistas, nós, estamos diante de um imenso campo de experiências, onde cada Espírito tem o dever de lutar pelo seu aperfeiçoamento moral-espiritual, tem um compromisso com seu próximo, está buscando socorrer o semelhante no dia-a-dia, ainda mais nós, os espíritas, que dizemos seguir Jesus.
Imperioso acostumarmo-nos à contemplação do nascer e morrer do sol, das flores desabrochando, a presença dos pássaros canoros, das cores verdejantes dos montes, dando colorido à paisagem que se une ao azul calmante do céu, do relevo das montanhas, das águas acolhedoras do mar e dos rios, da maciez da areia da praia num dia ensolarado, do choro do bebê que surge para mais uma encarnação, o olhar manso do idoso e sentirmos o quanto de feliz somos por desfrutarmos de tudo isso sem nada ser exigido em troca.
Precisamos nos integrar à beleza da Natureza, senti-la.
Importa considerarmos estes detalhes aqui assinalados, e percebermos que as reclamações são registros de impaciência, inconformidade e também de insubordinação às Leis de Deus, sem conexão com outro motivo qualquer.
Toda a Natureza fala do amor de Deus por todos nós, Ele que a construiu e entregou-a à nossa responsabilidade. Que cada um faça a sua parte, sem reclamações.
Sem nos darmos conta vamos nos aperfeiçoando na Terra, dela colhendo importantes lições que nos levarão ao progresso. Não condenemos a nossa habitação. Não ignoremos as possibilidades que ela oferece, sempre visando a nossa mudança, nossa iluminação espiritual que nos afastará, amanhã, das dificuldades.
Aprendamos a valorizar o mundo e cuidemos de tudo que significa sua capa: os animais, os vegetais, os rios, os mares, as florestas, as praias, o ar, as geleiras, o calor do sol e passemos a bendizer os esforços de todos os que nos antecederam aperfeiçoando-o para que o encontrássemos como agora o temos.
Para chegarmos ao Pai Criador, velejemos nesse mar imenso que é o Universo. Descobrirmo-nos é o primeiro passo; amarmo-nos o segundo; o terceiro é o encontro com o Pai.
Deus está alojado em nós e o aprendizado que nos leva a descobri-Lo é concedido pela vida planetária, com todas as suas inúmeras dificuldades e diferenças, reconheçamos, mas cujo objetivo é retirar das nossas reencarnações as marcas imensas da insensatez espiritual, transformando-as em leitos de estrelas cujo brilho se projetará sobre nós.
Vamos amar e respeitar nosso lugar de nascença e nossa existência dada pelo Criador, ela é o campo que nos acalentará agora, caso trabalhemos afanosamente em prol da mudança quanto ao modo de ver e de sentir a vida.
Ninguém é igual a nós, as diferenças são flagrantes e a alteridade pede, exige esforços de todos, no sentido de aceitarmos o próximo como ele é, a vida como se apresenta, sem deixar de lutar para que ela melhore, usando os mais legítimos direitos e cumprindo as obrigações morais.
Reclamar, nunca! Aceitar, sempre!
Artigo publicado na Tribuna Espírita, edição de Maio/Junho de 2005 e reproduzida com autorização do autor
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