Decisão pelo perdão
12 de março de 2003. Daniel e sua esposa, Ana Carolina, fechavam mais um negócio para expandir a rede de lojas de R$ 1,99 do casal, numa grande capital do país.
Costumavam voltar para casa sempre depois das 19 horas, mas, naquele dia, Daniel quis retornar mais cedo. Às 19h10 estavam na rua onde moravam.
A poucas quadras da residência, Ana Carolina comentou, ao ver viaturas de polícia:
Que será que houve no vizinho?
Assim que estacionaram, a filha mais velha, Letícia, trouxe a notícia: Sequestraram o Lucas.
Dez minutos antes, um homem numa moto, disfarçado de entregador de flores, havia invadido a casa e levado consigo o caçula de 8 anos.
Nos onze dias seguintes Daniel, o pai, quase não dormiu. Ficava ao lado do telefone, com um bule de café, esperando uma ligação.
Os criminosos fizeram três contatos, exigindo milhões de reais, mas pareciam sempre confusos.
Em 26 de março o telefone tocou novamente. Era a polícia, dizendo que havia encontrado o menino Lucas. A família começou a comemorar, mas veio o restante da notícia: Lucas fora achado, porém sem vida.
Os sequestradores, ao serem reconhecidos pelo garoto, o haviam assassinado, no mesmo dia do sequestro, há cerca de dez dias.
Soube-se mais tarde que dois, dos três sequestradores, eram seguranças de uma das lojas do grupo.
Daniel, o pai, confessou que, na época, apenas pensava em uma coisa: vingar-se. O ódio era o único sentimento que o mantinha vivo.
Chegou a arquitetar diversos planos e acabou escolhendo o dia da audiência na Corte.
Na véspera desse dia, ele pegou a arma que tinha em casa, limpou-a com cuidado e a encheu de balas. Ia entrar no Tribunal atirando.
Sem conseguir dormir, buscou amparo no altar que tinha na sala de casa. Rezou até a exaustão, pedindo ajuda, num misto de revolta e tristeza. Enfim, pegou no sono.
No dia seguinte, ao invés da arma, levou a Bíblia.
A fim de preservar Daniel, o juiz pediu que ele reconhecesse os indiciados através do olho mágico da sala onde estavam.
Porém, o empresário preferiu abrir a porta e ficar cara a cara com eles:
Olhem para mim! Olhem para o pai do garoto que vocês mataram, se são homens!
Os três, algemados, permaneceram de cabeça abaixada.
Num ímpeto, então, Daniel disse algo, cujo significado completo só entenderia algum tempo depois:
Eu não vim aqui para matá-los. Vim aqui para perdoar cada um de vocês.
O pai decidiu, ali, na frente de todos, e perante seu coração, pelo perdão.
* * *
Decidir pelo perdão não significa perdoar definitivamente, pois em casos como esse, o perdão completo demora tempo. Decidir por ele significa, num primeiro momento, evitar a vingança.
Decidir pelo perdão é não mais permitir que o ódio comande nossas ações, e nos mate lentamente, dia após dia.
Daniel decidiu pela vida, pela sua vida e de sua família, pois sabia que a morte dos criminosos não traria o seu filho de volta, nem lhe proporcionaria paz.
O caminho da paz começou ali, no momento em que decidiu não mais odiar.
Decidir pelo perdão é começar um processo longo, mas contínuo, num caminho seguro, onde sempre estaremos amparados, recebendo ajuda dos amores da Terra, dos amados do mundo espiritual e do Criador.
Convite ao perdão
Francisco Cândido Xavier foi um homem que viveu semeando a palavra do Cristo. Através das suas atitudes, pregou a paz e ensinou a caridade. Sua vida foi um exemplo de conduta cristã.
Médium viveu por noventa e dois anos, foi desprezado por muitos e durante sua vida sofreu ofensas e insultos, tendo passado imune a tudo.
Em uma de suas muitas frases que ficaram registradas, ele disse:
Graças a Deus, não me lembro de ter revidado a menor ofensa que sofri, certamente objetivando, todas elas, o meu aprendizado. E não me recordo de que tenha, conscientemente, magoado a quem quer que fosse.
Esta frase nos faz refletir sobre a forma como agimos diante das ofensas que sofremos. No cotidiano, nos deparamos com situações que põem à prova a nossa conduta.
São os olhares de desprezo ou de inveja. As palavras que ferem, humilham, magoam. As indelicadezas e os gestos que perturbam e ofendem.
São também as atitudes contínuas de omissão, de abandono dos deveres, ou de opressão, que acontecem entre irmãos, casais, pais e filhos, que vão se somando e se transformando em imensas mágoas.
É comum vermos famílias desestruturadas pelo cultivo da raiva, do rancor e da indelicadeza. Enfim, vemos com frequência, relações se esvaindo pela ausência do perdão.
Seja qual for a gravidade do ato infeliz que nos atinja, enxerguemos o outro, que nos fere e magoa, como alguém que pode estar enfermo e precisando de ajuda.
E como escolhemos agir diante de quem nos ofende?
Quando procedemos da mesma forma que o outro, entrando na sua sintonia, revidando, seja com palavras ou com atitudes, estaremos deixando que o outro dite a nossa conduta.
Estaremos nos equiparando àquele que cometeu o gesto desequilibrado.
É certo que ficamos tristes quando alguém nos ofende, mas o que deveria mesmo nos entristecer, é quando somos nós os ofensores.
Trabalhar o perdão ao próximo, assim como o autoperdão, é um exercício diário que podemos nos propor. Todos nós somos capazes de perdoar.
Não nos esqueçamos de que, por diversas vezes, nós é que desejamos ser perdoados.
Temos que começar relevando e perdoando as leves ofensas, para que estejamos preparados, quando nos depararmos com situações mais delicadas que nos exijam essa virtude.
Perdoar também é doar. Ao perdoar estaremos doando entendimento, paciência, compreensão e o amor que purifica. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada.
Mas o perdão não é o esquecimento do fato. Por vezes, torna-se difícil eliminar da memória uma atitude que tenha nos ferido.
Perdoar é cessar de ter raiva, é deixar de nutrir em nós o ressentimento pela pessoa que nos causou a dor ou o gesto infeliz que nos atingiu.
Perdoar acalma, liberta, traz paz e harmonia às nossas vidas.
O verdadeiro perdão é aquele que vem do coração e não dos lábios.
Façamo-nos hoje o convite para que deixemos que o perdão triunfe sobre a mágoa e o ressentimento.
Redação do Momento Espírita
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