terça-feira, 5 de julho de 2011

A mais bela flor














O bosque estava quase deserto quando o
homem se sentou para ler, debaixo dos longos
ramosde um velho carvalho.

Estava desiludido da vida, com boas
razões para chorar, pois o mundo estava
tentando afundá-lo.

E, como se já não tivesse razões suficientes
para arruinar o seu dia, um garoto chegou,
ofegante, cansado de brincar.

Parou na sua frente, de cabeça baixa e disse,
cheio de alegria:
Veja o que encontrei!

O homem olhou desanimado e percebeu
que na sua mão havia uma flor.
Que visão lamentável! Pensou consigo mesmo.

A flor tinha as pétalas caídas, folhas murchas,
e certamente nenhum perfume.

Querendo ver-se livre do garoto e de sua flor,
o homem desiludido fingiu pálido sorriso e se
virou para o outro lado.

Mas, ao invés de recuar, o garoto sentou-se ao seu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:

O cheiro é ótimo, e é bonita também...

Por isso a peguei. Toma! É sua.

A flor estava morta ou morrendo,
nada de cores vibrantes como laranja,
amarelo ou vermelho, mas ele sabia
que tinha que pegá-la, ou o menino
jamais sairia dali.

Então estendeu a mão para pegá-la
e disse, um tanto contrafeito:

Era o que eu precisava.

Mas, ao invés de colocá-la na mão
do homem, ele a segurou no ar,
sem qualquer razão.

E, naquela hora, o homem notou,
pela primeira vez, que o garoto era cego
e que não podia ver o que tinha nas mãos.

A voz lhe sumiu na garganta por alguns instantes...

Lágrimas quentes rolaram do seu rosto
enquanto ele agradecia, emocionado,
por receber a melhor flor daquele jardim.

O garoto saiu saltitando, feliz, cheirando
outra flor que tinha na mão, e sumiu
no amplo jardim, em meio ao arvoredo.

Certamente iria consolar outros corações
que, embora tenham a visão física,
estão cegos para os verdadeiros valores da vida.

Agora o homem já não se sentia mais
desanimado e os pensamentos lhe
passavam na mente com serenidade.

Perguntava-se como é que aquele garoto
cego poderia ter percebido sua tristeza
a ponto de aproximar-se com uma flor
para lhe oferecer.

Concluiu que talvez a sua autopiedade
o tivesse impedido de ver a natureza que
cantava ao seu redor, dando notícias
de esperança e paz, alegria e perfume...

E como Deus é misericordioso, permitiu
que um garoto, privado da visão física,
o despertasse daquele estado depressivo.

E o homem, finalmente, conseguira ver,
através dos olhos de uma criança cega,
que o problema não era o mundo, mas ele mesmo.

E, ainda mergulhado em profundas reflexões,
levou aquela feia flor ao nariz e sentiu
a fragrância de uma rosa...

* * *


Verdadeiramente cego é todo aquele
que não quer ver a realidade que o cerca.

Tantas vezes, pessoas que não percebem
o mundo com os olhos físicos, penetram
as maravilhas que os rodeiam e
se extasiam com tanta beleza.

Talvez tenha sido por essa razão
que um pensador afirmou que
o essencial é invisível aos olhos.



Redação do Momento Espírita

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